250 milhões ou 14 milhões? Acidente com caminhão que transportava abelhas gera corrida de apicultores nos EUA
03/06/2025 08:46
250 milhões ou 14 milhões? Esse é o número que marcou um acidente inusitado e preocupante ocorrido no estado de Washington, nos Estados Unidos, que colocou em alerta apicultores, ambientalistas e autoridades locais. Tudo aconteceu na última sexta-feira, 30 de maio, quando um caminhão carregado com colmeias comerciais tombou em uma estrada rural na cidade de Lynden, próxima à fronteira com o Canadá. Inicialmente, os relatos oficiais apontavam que aproximadamente 250 milhões de abelhas haviam escapado após o tombamento do veículo. No entanto, após uma reavaliação mais precisa, o número foi corrigido para cerca de 14 milhões de abelhas, ainda assim um contingente impressionante de polinizadoras soltas repentinamente em um ambiente urbano e movimentado.
O acidente ocorreu por volta das 4h da manhã, quando o motorista do caminhão, que transportava mais de 30 toneladas de colmeias, não conseguiu completar uma curva fechada e perdeu o controle do veículo. As caixas contendo os enxames se desprenderam e ficaram espalhadas pela vegetação às margens da estrada. Apesar da gravidade do incidente, o motorista não se feriu, mas o mesmo não se pode dizer da carga viva. Dezenas de colmeias foram danificadas ou completamente destruídas, o que causou grande agitação entre os insetos. A situação levou à interdição da área por medidas de segurança, e qualquer pessoa alérgica a picadas foi imediatamente orientada a evitar o local. A recomendação geral foi para que todos mantivessem uma distância de ao menos 180 metros do ponto do acidente, evitando riscos desnecessários de contato com abelhas em estado de estresse.
As autoridades locais, em parceria com apicultores da região, montaram uma força-tarefa para conter e recuperar os enxames. Mais de vinte criadores de abelhas se mobilizaram voluntariamente para auxiliar na operação de resgate. De acordo com Matt Klein, diretor adjunto de Gerenciamento de Emergências, o trabalho exigiu cuidado extremo tanto com os profissionais quanto com os insetos, já que as abelhas estavam desorientadas e em comportamento defensivo. “Alguns apicultores já foram picados, assim como alguns de nossos assistentes, mas essas são abelhas-europeias, então a picada não é tão grave quanto a de outras espécies”, explicou Klein. Ele também contou que chegou a ficar coberto de abelhas enquanto se aproximava da frente do caminhão, situação que exigiu sangue frio e experiência para não provocar um ataque em massa.
Apesar do caos inicial, os especialistas envolvidos acreditam que, com o tempo, as abelhas tenderão a se reagrupar de forma natural, reencontrando suas rainhas e retornando às colmeias — ou ao que restou delas. A estratégia adotada tem sido a de deixar algumas caixas abertas, com as rainhas em seu interior, na esperança de que o instinto de retorno ao ninho prevaleça entre os insetos. Essa abordagem tem sido bem-sucedida em outros acidentes semelhantes, embora cada caso traga seus próprios desafios. Em paralelo, as autoridades ambientais seguem monitorando a área para avaliar possíveis impactos na fauna local e evitar a dispersão irreversível dos enxames.
A resposta rápida da comunidade apícola da região também foi motivo de elogio. A página oficial do xerife do condado de Whatcom publicou um agradecimento público, reconhecendo a importância da união entre os produtores de mel e os serviços de emergência. “Obrigado à maravilhosa comunidade de apicultores: mais de duas dezenas apareceram para garantir que o resgate de milhões de abelhas polinizadoras fosse o mais bem-sucedido possível”, dizia a publicação. Esses esforços coletivos não apenas ajudaram a evitar um desastre maior como reforçaram a importância da colaboração entre diferentes setores diante de situações que envolvem seres vivos essenciais ao equilíbrio ambiental.
Este acidente chama atenção não só pelo ineditismo, mas também pela reflexão que provoca sobre a fragilidade das cadeias ecológicas que sustentam a vida no planeta. As abelhas, frequentemente tratadas com desdém ou medo por parte da população, são na verdade fundamentais para a polinização de diversas culturas agrícolas e para a regeneração de ecossistemas inteiros. Um único acidente como este, dependendo da extensão da perda, pode representar um impacto considerável em áreas onde as colmeias seriam empregadas para a polinização de plantações inteiras. Mais do que um problema de logística, trata-se de um episódio que revela a vulnerabilidade de sistemas naturais que dependem diretamente da ação humana consciente.
À medida que os trabalhos de contenção prosseguem e as abelhas são gradualmente reconduzidas às caixas de criação, resta a lição de que, por trás de cada colmeia, há um universo invisível de conexões ecológicas que sustentam não só a agricultura, mas a vida como um todo. Que esse episódio sirva de alerta não apenas para a necessidade de transporte seguro de animais vivos, mas para o valor inestimável das abelhas em nosso planeta. Afinal, sem abelhas, não há polinização; sem polinização, não há alimento; sem alimento, não há vida.